Para Warren Buffett, crise foi um negócio de US$ 10 bilhões
Durante a crise financeira, o bilionário Warren Buffett lançou botes salva-vidas para várias empresas de primeira linha. Cinco anos depois, o retorno desses negócios está ficando claro: já são US$ 10 bilhões e o valor continua aumentando.
Buffett se aproximou dessa quantia após receber mais uma grande bolada na semana passada, elevando para quase 40% o lucro antes dos impostos de seus investimentos feitos na época da crise, de acordo com uma análise do The Wall Street Journal.
A recompensa é uma ilustração vívida de uma das máximas favoritas de Buffett para os investimentos: "Seja medroso quando os outros são gananciosos, e seja ganancioso quando os outros estão com medo".
O retorno extraordinário mais recente para o bilionário de Omaha e seu conglomerado, a Berkshire Hathaway Inc., BRKB -1.32% foi gerado quando a fabricante de doces Mars Inc. lhe devolveu US$ 4,4 bilhões que sua subsidiária a Wrigley tomou emprestado em 2008. Só esse pagamento deve gerar à Berkshire um lucro líquido de pelo menos US$ 680 milhões.
"Em termos de simples lucratividade, um investidor médio poderia ter se saído igualmente bem investindo no mercado de ações se tivesse comprado durante o período de pânico", disse Buffett em entrevista ao WSJ. Ele estava se referindo a um período de alguns meses, começando no terceiro trimestre de 2008, quando as ações de algumas de suas empresas favoritas, inclusive a Wells Fargo & Co. e a American Express Co., caíram para mínimos históricos. "As melhores compras são feitas quando a maioria esmagadora das pessoas está com medo."
Mas poucos investidores, se é que houve algum, aproveitaram a crise tão habilmente como ele.
Numa comparação, o governo dos Estados Unidos investiu uns US$ 420 bilhões através de seu Programa de Alívio de Ativos Problemáticos (Tarp, na sigla em inglês). O governo também exigiu condições vantajosas e recebeu pagamentos consideráveis de dividendos, obtendo um retorno de uns US$ 50 bilhões, ou 12%, até o momento, segundo o site do Tesouro americano.
Buffett disse que espera usar o dinheiro para fazer em breve outros grandes investimentos que trarão rendimentos igualmente atraentes. A Berkshire vai continuar a comprar ações para engordar seu portfólio de mais de US$ 100 bilhões porque "ainda é melhor ter ações do que dinheiro", disse ele.
Começando com a Mars, em abril de 2008, quando os mercados de crédito iniciaram o aperto antes da crise financeira, algumas grandes empresas se voltaram para Buffett — e para as enormes reservas de caixa da Berkshire — como financiador de última instância. Além do capital necessário, as empresas adquiriram algo igualmente valioso: o aval implícito de Buffett para suas perspectivas de longo prazo. Em geral, as ações dessas empresas subiram após elas revelaram o envolvimento da Berkshire.
Em seis grandes negócios, a Berkshire investiu um total de uns US$ 26 bilhões. Buffett começou a fechar esses negócios nos primeiros dias da crise e continuou fazendo isso quando a recuperação já ia bem avançada. O último deles, em 2011, foi um empréstimo de US$ 5 bilhões para o Bank of America Corp.
Além da Mars e do Bank of America, a Berkshire fez investimentos no Goldman Sachs Group Inc., Swiss Re Ltd., Dow Chemical Co. e General Electric Co.
Vários negócios continuam a render dividendos robustos. A Berkshire também possui participações nessas empresas ou garantias para comprar suas ações que adicionam vários bilhões de dólares ao retorno sobre os investimentos da empresa, pelo menos no papel.
Embora a garantia de compra de ações de alguns destes negócios tenha vindo sem custos junto com a compra das ações preferenciais pela Berkshire, as normas contábeis exigem que a empresa divida os custos entre as ações e as garantias adquiridas. Isso significa que ela registra ganhos em seus livros contábeis de forma diferente da contabilidade tradicional de receitas e despesas, somando assim uns US$ 10 bilhões.
À medida que a economia se recupera, e com o crédito disponível a taxas mais atraentes, algumas das empresas optaram por reduzir a participação da Berkshire ou ajustar os termos de formas favoráveis para Buffett.
A Dow Chemical, que tomou emprestado US$ 3 bilhões da Berkshire para financiar a compra da Rohm & Haas, em 2009, afirmou que recomprar suas ações preferenciais é uma prioridade.
Também na semana passada, a Berkshire se tornou uma das maiores acionistas do Goldman, com uma participação de US$ 2,1 bilhões, após o fim de um acordo de cinco anos em que a Berkshire injetou US$ 5 bilhões no banco.
A Berkshire comprou 50.000 ações preferenciais do Goldman, que exigiam que o banco lhe pagasse US$ 500 milhões em dividendos anuais. Quando o Goldman resgatou as ações, em março de 2011, pagou à Berkshire US$ 500 milhões adicionais como prêmio.
O acordo original também deu à Berkshire garantias para comprar 43,5 milhões de ações ordinárias por US$ 5 bilhões, o que teria feito do conglomerado o maior acionista do Goldman. Em março, o banco alterou as condições para dar à Berkshire uma participação menor, sem que ela tivesse que gastar dinheiro extra.
A Berkshire ajudou a Mars a financiar sua aquisição da Wrigley por US$ 23 bilhões. Desde então a empresa tem procurado refinanciar parte da sua dívida para aproveitar os juros mais baixos e uma melhor classificação de crédito, disse um porta-voz.
A Berkshire contribuiu com US$ 6,5 bilhões, incluindo US$ 2,1 bilhões em ações preferenciais da Wrigley que pagam dividendos anuais. Mais tarde, a Berkshire também comprou mais US$ 1 bilhão em papéis de dívida da Wrigley. Até agora, o investimento deverá dar à Berkshire quase US$ 4 bilhões líquidos, incluindo dividendos anuais e um prêmio pelo pagamento antecipado, já que a dívida venceria em 2018.
A participação de Buffett no Bank of America pode render dinheiro por anos a fio. A Berkshire investiu US$ 5 bilhões no banco em 2011, o que lhe acrescenta uns US$ 300 milhões em receita anual antes dos impostos. O diretor-presidente do Bank of America, Brian Moynihan, disse recentemente que não pretende recomprar as ações preferenciais no futuro próximo. A Berkshire também tem prazo até 2021 para exercer sua garantia de compra de 700 milhões de ações ordinárias por mais US$ 5 bilhões, a US$ 7,14 por ação. Considerando que o preço atual das ações do banco é de uns US$ 14, essas garantias gerariam um lucro de quase US$ 5 bilhões nos livros contábeis.
Mas grandes aquisições, como a compra da operadora de ferrovias BNSF Railway Co., em 2010, por US$ 26 bilhões, ficaram mais difíceis de encontrar. Como os preços vêm subindo em paralelo com a recuperação econômica, Buffett já lamentou publicamente a escassez de ofertas transformadoras que permitiriam à Berkshire colocar parte do seu caixa para trabalhar. Fonte The Wall Street Journal.