Sucessão será teste do legado de Alan Mulally na Ford
Mulally, que está com 66 anos, deve sair do cargo dentro dos próximos dois anos, segundo pessoas a par da questão. A Ford já começou a considerar possíveis sucessores e meios de lidar com a transição, inclusive com a nomeação de um diretor operacional que trabalharia junto com Mulally antes de assumir o timão, disseram essas pessoas.
"Acho que eles perceberam que vão precisar ter alguém que se justaponha a Mulally por um tempo", disse um ex-executivo da Ford que é próximo dos atuais diretores. "Eles querem que a próxima pessoa se pareça com Mulally; alguém com o mesmo temperamento, o mesmo estilo de administrar. Eles vão querer uma cópia o mais fiel possível de Mulally."
Uma porta-voz da Ford disse que a companhia não está conduzindo uma busca de diretor-presidente. Terça-feira, no canal de TV americano Fox News, Mulally disse que não está de saída: "Não é verdade [...] mas posso entender que as pessoas sigam a Ford de perto, porque ela é tão importante e seu sucesso é tão importante para os Estados Unidos."
Uma possível saída de Mulally pode ser a primeira de uma série para as montadoras americanas nos próximos anos. Na General Motors Co., a expectativa é que o diretor-presidente Dan Akerson, 63, fique por pelo menos três ou quatro anos. Mas ele tem considerado candidatos internos para sucedê-lo desde que assumiu o posto no ano passado. A Chrysler Group LLC é dirigida por Sergio Marchionne, 59, que também dirige a Fiat SpA, da Itália, e já disse que pode se aposentar depois de 2015.
Fazer a transição de um líder carismático para um novo chefe é difícil em qualquer setor, e as montadoras de Detroit já tiveram experiências ruins no passado. O fundador Henry Ford nomeou seu filho Edsel como diretor-geral em 1919, mas continuou a exercer poder na companhia por quase 30 anos mais.
No início dos anos 90, na Chrysler, Lee Iacocca tentou se aposentar depois do esperado, causando uma divisão no conselho de administração. A briga levou à escolha de um candidato de consenso, Bob Eaton, que acabou fechando acordo para a malfadada fusão que criou a DaimlerChrysler AG.
Encontrar um sucessor que possa se equiparar a Mulally não vai ser fácil. Ele é conhecido por estar sempre sorrindo e ter um estilo tranquilo. Mas também já mostrou conseguir ser frio e calculista quando necessário. Por exemplo, ele demitiu o diretor financeiro da Ford por que ele estava tendo conflitos com outros executivos.
Mulally entrou para a Ford em 2006, vindo da Boeing Co., quando a montadora sediada em Dearborn, na Grande Detroit, Estado de Michigan, e suas rivais estavam tendo bilhões de dólares em prejuízos. A Ford hipotecou suas fábricas, imóveis e ativos para tomar um empréstimo de US$ 23,5 bilhões, o que lhe deu um colchão de liquidez para atravessar a fase de vacas magras que se seguiu, e para financiar seu plano de reestruturação.
O executivo também focou a companhia em sua divisão Ford, e vendeu ou fechou marcas de nicho, como Jaguar e Land Rover, tudo parte da estratégia "One Ford". Ele cortou a produção para alinhar os estoques à demanda, melhorou a qualidade e reduziu promoções de vendas que reduziam o lucro. Mulally deu um basta às brigas internas da Ford, forçando suas vastas operações mundiais a trabalhar como um time.
Em 2009, quando a GM e a Chrysler pediram socorro com aval do governo, a Ford divulgou um lucro de US$ 2,7 bilhões. Nos primeiros três trimestres deste ano, a companhia lucrou US$ 6,6 bilhões. No processo, Mulally se tornou uma espécie de celebridade empresarial.
Isso tudo torna a sucessão mais delicada.
Membros do conselho da Ford começaram a planejar a substituição de Mulally, embora a companhia ainda não tenha contratado uma firma de seleção de executivos, disseram pessoas a par do assunto.
Entre os nomes em consideração está o de Mark Fields, 50, que preside as operações na América do Norte e na América do Sul.
No mês passado, Fields admitiu numa entrevista ao The Wall Street Journal que gostaria de ser diretor-presidente. Ele também disse que todos os diretores da Ford estão cientes do receio de que a cultura e as práticas possam reverter para a "velha Ford", quando picuinhas internas inibiam o progresso, depois que Mulally sair. Mas ele acrescentou que não acha que isso vá acontecer. "Nós somos práticos", disse. "Isto está funcionando. "Fonte The Wall Street Journal.