Os velhos cartões de visita resistem à tecnologia
O ator e comediante americano Damon Wayans, que hoje também é um desenvolvedor de aplicativos para smartphones, estava distribuindo cartões de visita
Damon Wayans durante o congresso da telefonia móvel em Barcelona. O comediante e empreendedor criou um app para substituir os cartões de visita.
O ator e comediante americano Damon Wayans, que hoje também é um desenvolvedor de aplicativos para smartphones, estava distribuindo cartões de visita durante o Congresso Mundial de Telefonia Móvel, que aconteceu semana passada em Barcelona. Ele estava tentando promover uma alternativa que criou para um dos mais duradouros artefatos da velha economia: o próprio cartão de visita.
"É irritante", diz, referindo-se à ironia de ter que usar cartões de visita para apresentar o app com que pretende acabar com eles.
O aplicativo, chamado Flick Dat, permitiria aos usuários passar dados de contato de um telefone para outro com um movimento de polegar. Como a versão final do app ainda não foi lançada, Wayans, para manter contato com as pessoas com quem falou, fez o que todo mundo faz e deu a elas seu cartão de visitas.
Wayans, que costumava brincar que cresceu tão pobre que se alimentava do seu sono, está levando a ideia do app a sério. "Não quero que seja a coisa mais engraçada que já fiz", diz.
A tecnologia americana já levou o homem à lua, inventou a internet e criou carros que dirigem a si mesmos. Mas ainda não foi páreo para uma ferramenta de negócios que tem raízes na invenção do papel pelos chineses ou na da prensa por Gutenberg.
Wayans é apenas o último adepto da tecnologia a tentar substituir o velho cartão. Mas os prognósticos estão contra ele.
Jack Dorsey, um dos fundadores do Twitter Inc. e o criador da Square, empresa que oferece aplicações e serviços de pagamentos para dispositivos móveis, é conhecido no Vale do Silício por seu esforço para eliminar o uso desnecessário de papel. A maioria das pessoas na Square não usa cartões de visita.
A prática funciona para Dorsey, que não precisa ser imediatamente acessível. Mas não é boa, por exemplo, para Kay Luo, que, como investidora e ex-porta voz da empresa, precisa trocar informações de contato.
"Eu era praticamente o cartão de visita do Jack", diz ela, que era a única que nunca tinha cartões para distribuir.
Um dia, ela pegou um monte de adesivos com o logotipo da Square e escreveu no verso seu e-mail e número do telefone. "É constrangedor quando você precisa dar seus dados de contato para alguém", diz.
A gigante das telecomunicações Orange está indo numa direção completamente diferente. Em vez de acabar com o cartão de visita, o departamento de relações públicas da companhia decidiu equipar alguns dos seus com o chamado chip NFC, que pode transmitir sinais de rádio para um smartphone.
"É uma questão de ser dinâmico", diz Jeff Sharpe, gerente sênior de relações públicas da Orange, ex-France Télécom . "O NFC é uma grande tendência na indústria agora."
Ninguém estava fazendo esses cartões de visita quando Sharpe e seus colegas tiveram a ideia, um ano atrás. Então ele gastou pelo menos uma hora para colocar manualmente os chips no verso de cerca de 200 cartões. Ele compra os cartões por cerca de US$ 1,38 cada, o que os torna caros o suficiente para que ele carregue também um punhado de cartões convencionais de papel. Mas Sharpe concluiu que o experimento vale a pena.
"Você pode usar [a tecnologia] como uma porta de entrada para mais informações", diz. "Creio que, definitivamente, ela torna os cartões mais úteis."
Apesar disso, Sharpe raramente dá aos outros os novos cartões. "Geralmente envio meus detalhes [de contato] por torpedo", acrescentou.
Wayans, que é conhecido pelo seu papel na série de TV americana dos anos 90 "In Living Color", teve a ideia de criar o aplicativo durante uma conferência digital em Hollywood, em 2012. "As pessoas vinham até mim o tempo todo e me davam esses cartões de visita", diz. "Saí da conferência com cerca de cem cartões e pensei: 'O que faço com isso?'", diz.
Dias depois do evento, ele teve uma inspiração. "Disse: 'Seria muito bacana se alguém pudesse só fazer isso'", diz Wayans, tocando sua palma esquerda com o polegar direito. "Assim que pensei isso, disse: 'Oh, meu Deus, esse será meu primeiro app.'"
Até que a mais recente versão do seu app seja lançada, provavelmente no fim de março, Wayans deve se limitar a distribuir a versão em papel do seu cartão — um retângulo pequeno e preto, do tamanho de uma barra de goma de mascar —, mas somente para uns poucos felizardos. Ele distribuiu apenas uns cinco durante os dois primeiros dias do congresso de Barcelona.
"Realmente os guardo para situações quando penso que gostaria de me conectar com essa pessoa", diz.
Mais de dois anos depois de sair da Square, Luo ainda recebe no seu celular ligações de pessoas querendo falar com Dorsey. "Adoraria um cartão de visita que pudesse se autodestruir", diz ela. "Como um cartão de visitas Snapshat", diz, referindo-se ao app para dispositivos móveis conhecido por suas mensagens que desaparecem.
Ela adotou com mais convicção o estilo de vida sem cartões. Em seu novo trabalho, no setor imobiliário, ela não usa nenhum. Mas não consegue se livrar deles totalmente. Os cartões estão consolidados na cultura dos negócios e estão se acumulando na sua mesa. Fonte The Wall Street Journal.