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Câmeras vigiam a loja e ajudam nas vendas

As câmeras de segurança já não são só para vigiar os malfeitores. Agora, elas também são ferramentas de marketing para as pequenas empresas.

Uma série de novas tecnologias está permitindo que os donos de lojas usem suas câmeras de segurança e gravadores de vídeo digital para afiar a promoção de produtos e dar impulso às vendas.

Os novos serviços ajudam a coletar dados sobre como onde os clientes gastam mais tempo em uma loja e como a distribuição do espaço impede ou ajuda o fluxo do tráfego, além de dados demográficos dos visitantes. Logo, os proprietários podem obter uma análise dos dados organizada em listas de estatísticas, gráficos ou mapas, para descobrir se a loja precisa ser reorganizada ou se os horários de trabalho dos funcionários precisam ser alterados. Eles também podem usar o sistema para observar remotamente a loja e assim manter um olho nos negócios enquanto estão fora.

A ideia por trás desses sistemas não é nova. Mas alguns serviços que estão sendo lançados nos Estados Unidos hoje — como Prism, RetailNext e Scene Tap — são bem mais acessíveis para pequenas empresas, com mensalidades que variam de US$ 99 à US$ 999. A tecnologia trás outra vantagem: em vez de usar equipamentos especializados em monitoramento, os novos sistemas utilizam o serviço de armazenagem na nuvem aproveitando equipamentos de segurança já existentes.

"Tinha cerca de 15 câmeras instaladas e um DVR, que nunca usava", diz Ivor Bradley, empresário que é dono de um café, o Creamery, e um restaurante, o Iron Cactus, em San Francisco. "Eles estavam lá apenas para efeito de segurança, em caso de algo acontecer."

Hoje, Bradley usa o Prism para monitorar o seu negócio enquanto está fora. Ele estuda onde os clientes vão e o que estão comprando para ter uma ideia dos padrões de compra; ele também analisa quantos clientes tem durante diferentes faixas de horário para ver se precisa reorganizar as horas de trabalho dos funcionários.

Gráficos de calor, também conhecidos como "heatmaps", para reduzir pela metade o tempo médio de espera dos seus clientes. "Temos uma fila de mais ou menos três horas todos os dias na hora do almoço," diz Bradley. "Então, analisamos se a fila andando rápido ou não."

Ao examinar o vídeo, ele notou que devia retirar algumas mesas e cadeiras que estavam no caminho e mudar uma prateleira de produtos para um lugar mais conveniente. Ele também notou que precisam mudar a localização de certos produtos de acordo com a hora do dia — colocando, por exemplo, mais suco de laranja durante a parte da manhã e Coca Diet na parte da tarde.

Bradley diz que agora pode se dar ao luxo de ter um dia de folga por semana, o que nunca pode fazer antes, porque agora tem como controlar o negócio mesmo estando longe.

Ainda assim, existe o problema da privacidade. Como os clientes vão reagir ao serem examinados e computados por câmeras de vídeo?

A Prism, a RetailNext e a Scene Tap, afirmam que os sistema de coleta não utiliza dados específicos de identidade, tais como nomes, ele apenas coletam números. "Nós nem sequer produzimos relatórios que digam, por exemplo, que às 8h15 uma mulher de 27 anos entrou na loja", diz Cole Harper, um dos fundadores da Scene Taps. "O que dizemos é algo do tipo das 8h00 às 8h30, 30% dos seus clientes eram homens, 70% eram mulheres e a idade média era de 26,1 anos. Esse é o tipo de mensagem que produzimos o tempo todo."

Esse nível de detalhe, diz Harper, é muito menor do que o que muitas pessoas já compartilham voluntariamente. "As pessoas já dizem onde estão através do Foursquare e outros aplicativos de check-in que existem por aí," diz.

Mas alguns defensores da privacidade temem que possa haver risco de abuso. "Esses sistemas podem facilmente ser combinados com outros serviços de dados, e rapidamente esse conjunto agregado de informação aparente inofensivo pode acabar se transformando em dados individualizados, diz Nicole Ozer, diretora de políticas de tecnologia e liberdade civil da entidade de defesa dos direitos do cidadão American Civil Liberties Union da Califórnia (ACLU).

Em pelo menos um caso, um serviço dessa categoria gerou oposição. O Scene Tap oferece um aplicativo específico para proprietários de bares, no qual o cliente pode ver com um clique quantas pessoas estão no local, além da idade média dos presentes, quantos são homens e quantas mulheres. O serviço usa algoritmos de detecção facial. Quando a Scene Tap entrou no mercado de San Francisco no ano passado, alguns clientes de bares acusaram os estabelecimentos de invasão de privacidade. Eles organizaram boicotes aos bares que adotaram o Scene Tap e denunciaram em sites que reúnem avaliações de consumidores sobre serviços.

Harper divulgou uma carta para toda a cidade no site da empresa e pediu que críticos entrassem em contato com ele por e-mail. Ele diz que também tem discutido o assunto com defensores da privacidade e agências governamentais.

Mas o furor foi se dissipando uma vez que as pessoas se acostumaram com o serviço e perceberam que o aplicativo não coletava dados dos individuais, diz. "A revolta em San Francisco se acalmou na mesma semana, à medida que educamos as pessoas sobre o que o Scene Tap realmente faz", diz. "Temos grandes projetos para de expansão na região de San Francisco ainda este ano."

Ozer, da ACLU, argumenta que as pessoas ainda estão preocupadas. "Pode ser que as pessoas simplesmente não digam nada porque não sabem que um bar está usando esse sistema de monitoramento, mas se seu modelo de negócios se baseia em esperar que o público não fique sabendo o que você está fazendo, isso um problema", diz. Fonte Wall Street Journal.