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Toyota tenta recuperar o tempo perdido no Brasil

A Toyota Motor Corp. está correndo para alcançar seus rivais na América Latina, tentando compensar décadas de negligência que deixaram a gigante japonesa em desvantagem no mercado automobilístico da região, que está em franca expansão.

A maior fabricante de veículos do mundo continua entre os retardatários na América Latina, não chegando sequer a estar entre as cinco maiores montadoras do Brasil, que hoje é o quarto maior mercado de automóveis do mundo. Mas um interesse renovado levou a Toyota a injetar mais recursos na região.

"Nós estamos correndo atrás do prejuízo, mas estamos fazendo isso rápido", disse o americano Steve St. Angelo, diretor-presidente da Toyota na América Latina e Caribe, em entrevista ao The Wall Street Journal. "Nós agora temos os recursos para dar à região a atenção que ela realmente precisa e merece."

O Brasil foi o local da primeira fábrica da Toyota no exterior, quando em 1958 ela se aventurou fora do Japão. Mais de meio século depois, seu negócio no país tem patinado, já que a Toyota centralizou seus recursos em mercados mais robustos como Estados Unidos, China e Japão.

No Brasil, a participação da Toyota nos sete primeiros meses de 2013 ficou em torno de 4,5%, o que a coloca aproximadamente na sexta posição, bem atrás das líderes Fiat SpA, Volkswagen e General Motors Co., que juntas têm cerca de 60% do mercado.

St. Angelo não quis especificar uma meta de vendas, mas disse que a capacidade da Toyota para se colocar entre as quatro primeiras no ranking da América Latina até o fim da década poderia ser "uma meta razoável".

A Toyota quase dobrou sua produção local neste ano após ter aberto uma nova fábrica em Sorocaba, SP, em setembro de 2012, num investimento de US$ 600 milhões. Ela está investindo outro R$ 1 bilhão para construir uma fábrica de motores em Porto Feliz, SP, que deve começar a operar no segundo semestre de 2015.

A Toyota vendeu 321.000 veículos na América Latina no ano passado, uma pequena fração de um mercado que, desde 2005, dobrou de tamanho e chegou a 6,12 milhões de automóveis.

Mas as vendas da Toyota no Brasil nos primeiros sete meses deste ano saltaram mais de 75%, para 97.957 veículos, ante o mesmo período de 2012. Isso se deve principalmente ao lançamento do Etios, um carro pequeno na faixa de preços mais barata. Ele é produzido na nova fábrica e começou a ser vendido em setembro do ano passado.

O Etios preenche um vazio na limitada linha da Toyota na América Latina. Até sua chegada, só 9% da produção local se encaixava no segmento de carros mais baratos, que responde por cerca de 30% das vendas na região. A participação da Toyota nessa categoria era de apenas 1,2% em 2010.

Outro indicativo da intenção da Toyota é a nomeação de Mark Hogan, ex-executivo da GM que trabalhou no Brasil nos anos 90, para integrar seu conselho. O presidente da Toyota, Akio Toyoda, pediu especificamente a Hogan que ajudasse a empresa em suas operações na América Latina.

"O Brasil costumava ser um mercado quase descartável, que os executivos da Toyota nem se preocupavam em visitar", diz Takaki Nakanishi, fundador do Nakanishi Research Institute, firma de pesquisa especializada na indústria automobilística. "Mas agora ele se tornou estrategicamente muito importante", à medida que problemas recentes nos EUA e na China ressaltaram a necessidade da Toyota de combater as vulnerabilidades investindo mais em outros mercados emergentes.

Mas Nakanishi diz que seria difícil para a Toyota competir com líderes de mercado na América Latina. Ao contrário da Toyota, elas construíram as bases para suas cadeias de fornecedores ao longo de muitos anos. Isso é importante para penetrar no mercado brasileiro, onde é caro fabricar e distribuir carros na faixa mais baixa de preços.

St. Angelo disse que o próximo passo será ampliar o portfolio da Toyota de carros mais baratos, acrescentando variações do Etios, como por exemplo uma versão esportiva. Ele disse que a empresa vai avaliar a construção de novas fábricas ou a ampliação das existentes, dependendo da resposta do mercado. Mas o executivo disse que vai evitar expansões excessivas que deixaram a Toyota vulnerável no início da recessão global. "Eu não quero nunca, nunca ser criticado por termos crescido rápido demais. Os clientes vão determinar o ritmo em que cresceremos", disse.

A nomeação de St. Angelo mostra o crescente interesse da Toyota na América Latina. Toyoda reorganizou a estrutura da gestão da empresa no exterior no início do ano, indicando profissionais não japoneses para altos cargos pela primeira vez, para dar mais poder aos líderes regionais.

A diferença já é visível, disse St. Angelo, que antes comandou a produção da Toyota no Estado de Kentucky, nos EUA. Segundo ele, a maior autonomia permitiu que fizesse rápidas mudanças na fabricação dos automóveis para atender aos gostos locais de forma mais rápida.

Ele ouviu de concessionárias americanas, por exemplo, que os consumidores queriam a parte interna do compartimento do motor do Etios e os para-lamas pintados para que o carro tivesse um visual mais limpo. Ele ordenou que as fábricas fizessem as mudanças imediatamente. Fonte The Wall Street Journal.