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Criatividade para aliviar os congestionamentos

O congestionamento é uma doença cada vez mais cara e desagradável da vida urbana e inúmeras iniciativas têm sido criadas para tentar solucionar este mal.
Pessoas numa manhã na estação Grand Central Terminal, na cidade de Nova York.

Uma solução comum é cobrar um pedágio mais caro durante a hora do rush. Nos Estados Unidos, as passagens do sistema de trânsito de Seattle, por exemplo, ficam US$ 0,75 mais caras entre as 6h00 e 9h00 e entre as 15h00 e 18h00. Os passageiros dos trens da linha MetroNorth pagam US$ 3,50 a mais no trecho que liga Stamford, em Connecticut ao terminal da Grand Central, em Nova York, na hora do rush. Cingapura está experimentando não cobrar tarifas para aqueles que saírem antes das 07h45 de 16 estações de metrô no centro da cidade.

Em Londres, a cidade cobra uma "taxa de congestionamento" de 10 libras esterlinas (cerca de US$ 15) para os carros que entram no centro da cidade das 7h00 às 18h00. O pedágio numa rodovia no Estado americano de Virginia varia, de acordo com o volume do tráfico, de US$ 2,05 a US$ 7,55, num trecho de 23 quilômetros.

Mas estipular um pedágio mais alto nas horas de rush para estimular uma mudança de hábito num grande grupo de pessoas não é uma tarefa fácil. E viagens grátis, como as de Cingapura, são fáceis de promover, mas podem sair caro para os cofres estatais.

Balaji Prabhakar, um cientista da computação da Universidade Stanford, na Califórnia, acredita que encontrou uma solução mais eficaz, inspirada em duas observações comuns sobre a natureza humana: primeiro, as pessoas são loucas por loterias e segundo, elas adoram uma competição amistosa.

O primeiro experimento de Prabhakar foi em Bangalore, na Índia, onde 14.000 trabalhadores da Infosys  Tecnologies lotam diariamente 200 ou mais ônibus da empresa para ir trabalhar. Essas pessoas geralmente ficavam presas no tráfego no horário do rush. Quando um trabalhador sai de casa depois das 7h30, isso acrescenta cerca de 70 a 90 minutos na jornada diária, mas muitos deles costumavam sair para o trabalho depois desse horário.

Então, os pesquisadores ofereceram algo similar a bilhetes de loteria para quem chegasse ao trabalho antes das 8h30. Quantos mais bilhetes acumulavam, mais chances as pessoas tinham de ganhar entre US$ 10 e US$ 240 numa loteria semanal. A tática funcionou: o número de passageiros que chegaram antes das 8h30 dobrou, a média do tempo de transporte caiu de 71 minutos para 54 minutos; e a Infosys adiantou o horário de 60 ônibus.

No experimento seguinte, para incentivar os funcionários da consultoria Accenture em Stanford, Califórnia, a caminhar, os pesquisadores adicionaram um novo recurso: os amigos.

Cerca de 3.000 mil funcionários ganharam pedômetros para contar e registrar eletronicamente os passos caminhados. Quanto mais passos, mais pontos a pessoa ganhava. Os pontos foram usados em um jogo que dá recompensas em dinheiro. Os participantes andaram uma média de 500 passos a mais por dia, o equivalente a cerca de 400 metros

Cerca de cinco semanas depois do experimento, os pesquisadores introduziram uma lista parecida com a lista de amigos do Facebook e um "feed de notícias" on-line para os participantes poderem comparar a sua contagem de passos com as dos amigos.

Em pesquisas feitas depois do experimento, os participantes disseram que o que os motivou foi o dinheiro, além da tecnologia interessante de contar os passos e da diversão do jogo.

Mas os fatos sugerem outra coisa: ao adicionar dois amigos na competição, notou-se um acréscimo de 664 passos a mais por dia, em comparação com os passos dados antes da adição de amigos (adicionar um cônjuge não gerou um aumento significativo.) "O dinheiro dá o pontapé inicial," diz Prabhakar, "mas descobrimos, pelos dados, que os amigos tem uma influência enorme".
O experimento já terminou, mas a empresa informou que estuda incorporá-lo em seu programa de bem-estar dos funcionários.

A equipe de Prabhakar incorporou a participação de amigos numa campanha recente para fazer com que os passageiros de Cingapura chegassem aos trens uma hora antes ou uma hora depois do horário de pico, das 07h30 às 08h30. Como em outros experimentos, eles ofereceram pontos que poderiam ser trocados por recompensas em dinheiro, como programas de fidelidade de uma companhia aérea, e quanto mais pontos mais recompensas.

O sistema de transporte público de Cingapura parece estar satisfeito. O programa de seis meses iniciado em 2012 foi estendido até o fim deste ano. Em abril, havia 85.000 mil inscritos, em comparação com 35.000 em outubro; apesar de isso ser apenas uma fração dos 2,5 milhões de passageiros que usam o sistema.
Em média, 10% dos passageiros participantes deixaram de viajar no horário de pico, diz Prabhakar.

A equipe do acadêmico conseguiu recentemente usar o experimento para cumprir a promessa que a universidade de Stanford havia feito de ajudar a aliviar o tráfego na hora do rush no condado de Santa Clara, onde fica o campus. Os 3.900 participantes, uma parte significativa das 8.000 pessoas com autorização para estacionar no campus, e instalou aparelhos em seus carros (que serão substituídos por aplicativos de smartphones). Elas recebiam pontos ao chegar e sair da universidade uma hora antes do horário de pico.

A popularidade do jogo impressionou o diretor da agência local de estacionamentos e transporte, Brodie Hamilton. Ele duvidava que as pessoas fossem ter tempo de girar o dado eletrônico para jogar e insistiu que Prabhakar incluísse um recurso de jogo automático. Mas "há pessoas na minha equipe que jogam frequentemente. Elas realmente aderiram. Tenho que admitir que Balaji estava certo", diz Hamilton.

Cerca de 15% dos viajantes que participaram do experimento mudaram o horário de transporte. Os estudantes tendem a entrar e sair mais tarde, os empregados entram e saem mais cedo. Os smartphones facilitaram o processo. Um novo aplicativo também registra e dá pontos para os ciclistas e para as pessoas que caminham.

Uma mudança de 10% a 15% no número de viagens fora do horário de rush pode não parecer muito, mas induz pequenas mudanças no comportamento de um grupo grande de pessoas e pode ter um grande impacto. Como diz Prabhakar, muito mais água é desperdiçada por torneiras com pequenos vazamentos do que um único hidrante que visivelmente jorra água. Fonte TheWall Street Journal.